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Com aquelas palavras deixei o homem ir embora. Fui para o lado contrário dele, odeio ficar na mesmice.
Acho que andei uns 2km em linha reta. Já estava completamente exausto. Acho que chegara a minha hora. Outros se passassem 2 dias ali teria morrido. O calor era muito intenso, e eu já não conseguia mais enxergar muita coisa de longe, o sol ofuscava minha vista, e o suor entrava constantemente em contato com meus olhos. A sede estava pesando bem mais, a fome nem tanto, não sei por que, mas a comida não estava me fazendo falta. Acho que o meu maior problema ali era o desconforto. Tinha de andar o tempo todo, sentindo um calor escaldante que aquecia até meu cérebro. As vezes colocava a mão no cabelo e ele estava tão quente que eu me assustava. As vezes eu agradecia por meu cabelo estar bem mais quente do que eu mesmo, pelo menos eu estava melhor do que alguém.
Pensei em voltar para o Oasis, mas estava muito longe, acho que não agüentaria outra caminhada como aquela. Como estava cansado resolvi sentar. E percebi que metade dos meus problemas estavam resolvidos... A areia é fofa e macia. Era quente, muito quente. Mas acho que por ser areia, não se tornava tão quente.
Minhas pernas gritavam de alívio, sentia todos os meus músculos relaxando. Então quis me deitar um pouco, talvez fosse melhor do que ficar sentado. Deitei-me. E vi no alto uma ave me circundando, parecia estar me vigiando, me protegendo de alguma coisa. Mas eu sabia muito bem que era um abutre. E com certeza me protegeria de qualquer outro animal que quisesse me comer. Pois ELE queria me comer também, a todo custo, por isso esperava que eu morresse. Ele me protegeria por seu próprio bem, e não para o meu.
Ele pousou do meu lado, tive medo de que ele me fizesse algo, dei-lhe uma bofetada no bico e o infeliz voou uns 5 metros de distância. Estava torcendo para que ele não quisesse briga. Nunca vi uma coisa dessas brigando com alguém. E apesar de assistir muito o National Geographic nunca tinha visto uma ave daquelas brigando com um ser humano. Acho que eu seria o primeiro a comprar briga com um bicho daqueles. Teria que me virar, pois não fazia a mínima idéia do que ele poderia fazer.
Chutei a areia com intenção de cegá-lo (coisa que funciona bem com os humanos), tive sorte e o vento levou a areia na direção certa. A ave negra pulou, e de um salto já estava no ar. Voando. Livre. Ela poderia ir para qualquer lugar. Ela não tinha que andar... Apenas voar.
Observei-o indo embora até não conseguir mais vê-lo. Sem mais nem menos proferi algumas palavras que vieram na minha mente:
-Você sabe de onde veio!
Você sabe para onde deve ir!
Você sabe que em algum lugar existe alguém!
Você sabe sobreviver aqui!
Pois aqui é seu lar.
Pois aqui é onde você quer estar.
Após andar bastante, (não lembro o quanto, já estava exausto para contar), encontrei chão. Isso mesmo, chão. Chão completamente rachado. Dos mesmos que eu via nos livros... Pisar em um deles era bem pior do que apenas vê-los e estudá-lo. O calor agora parecia vir de baixo. Do chão. Acho que foi dessa região que tiraram a idéia de que o inferno é à baixo do chão.
Quando eu já estava desistindo de lutar pela minha vida, eu vi uma flor. Uma flor linda. No meio das rachaduras. Ela parecia vir de lá, estava sozinha em todo aquele vasto deserto. Acho que agora encontrei companhia.
:D
A Flor - Culpa.: 2ª parte
Idéias que vieram enquanto estava Preso
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4 diagnósticos:
"Acho que foi dessa região que tiraram a idéia de que o inferno é à baixo do chão."
ADOREI.
Se a primeira parte de Culpa tava SUUUPER maravilhosa, imagina então a segunda. Sem comentários.
A parte da flor foi a mais interssante e também me faz pensar em muitas coisas, como por exemplo em como uma flor, pequena e singela, única num lugar, um ser que não tem fala nem corresponde aos nossos atos, pode servir de companhia a uma pessoa, simplesmente pelo fato de que podemos sobreviver fora do nosso "habitat". E quando estiveres entediado basta olhar a flor, porque esta vai te fazer companhia, porque as flores são iguais vistas de longe, mas a cada minuto se olhares uma de perto verás que ela sempre traz algo novo, nem que seja só uma nova dobrinha minúscula, e essa expectativa de ver o que ela nos trará depois, talvez, nos faça querer viver.
"Acho que agora encontrei companhia."
Que meeigo *-* Sério, sem "frescura feminina", mas amei essa parte >.<
Aliás, dei total valor à todo o texto ;D
Continue sempre daí pra frente, que tu chega longe! \o\~
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