A Tempestade.: Culpa 3ª Parte


Deitei-me de frente para a flor. Era a coisa mais bonita que tinha por ali, não perdia nada em ficar e observá-la. Não entendo de plantas, muito menos de flores, mas era pouco provável que esses seres vivos sobrevivessem no meio desse deserto.O problema é que não tinha como tirá-la dali, se a tirasse ela morreria, e eu queria ir para casa. Não sabia se um dia chegaria em casa. Mas porque não tentar? Afinal, tenho a vida toda pela frente, mesmo que ela esteja perto de terminar.
Toquei em suas pétalas. Eram lisas, macias, delicadas, incrivelmente suaves. Tinha medo até de chegar muito perto e matá-la com minha respiração humana. Minha respiração não poderia fazer nada bem para ela, acho eu. Dentro de mim não havia nada de bom para humanos, e para flores então?
Eu não conseguia mais sentir calor, frio, dor, vontade, ou qualquer outra coisa. Eu só conseguia vê-la. Só conseguia ver a sua perfeição. Não a perfeição de sua aparência, mas a perfeição de sua existência. Como poderia ela estar ali? Estive pensando em desistir. Mas se ela, tão pequena, tão delicada, poderia sobreviver aqui, porque eu não poderia?
Levantei-me como um raio. Olhei para baixo. Curvei-me um pouco e disse com delicadeza e ternura.
- Obrigado, Flor.
Agora eu possuía um sorriso sincero no rosto. Corri a correr o máximo que pude para qualquer lugar. Corri. Comecei à andar. Andei.. Cansei. Parei. Olhei em volta novamente, e como sempre, não havia nada além de chão rachado. Não entendi o porquê de eu ter corrido. Corri sem rumo! Eu deveria ter ficado com a minha Flor, eu já sabia o que encontraria pela frente. Mas mesmo assim persisti em fazer mal a mim mesmo.
Fui rapidamente à procura de minha Flor. A vi novamente. Tão linda como nunca. Passei 5 minutos longe dela, mas esses cinco minutos serviram para deixá-la mais linda do que já era. Ela estava mais vermelha. Maior. Mais calma.
Voltei à observá-la intensamente. Então depois de um tempo falei carinhosamente:
- Ficarei ao teu lado até o final da eternidade. Pois tu me ensinastes o segredo da vida.
Sentei-me de frente para ela. De longe vi algo negro se aproximando rapidamente. Parecia ser uma tempestade de areia. E não parecia pequena e fácil de sobreviver. Um calafrio me subiu pela espinha, mas eu só conseguia pensar no porque de aquilo tudo estar acontecendo comigo.
Olhei para a flor desesperadamente. Não queria que nada acontecesse a ela. Tinha acabado de encontrá-la, não podia perdê-la assim tão facilmente! Se ao morrer eu fosse para o paraíso, não teria a metade do valor que teria estar aqui neste deserto com minha Flor.
Arranquei-a do chão com um rápido movimento e me pus a correr! De vez em quando olhava para atrás com a intenção de ver a maldita tempestade de areia se aproximava. Correr era apenas um ato desesperado, eu sabia que não sobreviveria, e que ali era meu fim. Não pensei que meu fim seria por causa de algo secundário, algo que estaria ali eu estando ou não. Pensei que morreria por minha própria escolha ou porque algo ou alguém conspirou contra mim. Ou então por “velhice”. Algo que seria conseqüência do tempo e de meus próprios atos.
Já dava para sentir a ventania violenta aproximando-se de mim. Mas não desisti! Continuei a correr! Não parei e não pararia enquanto tivesse pernas! E não soltaria a pequena flor em quanto tivesse braços!
A flor voou dos meus braços, meu cérebro não teve tempo para pensar. Eu simplesmente segui a flor correndo desesperado. Não me pergunte se nessa hora a tempestade de areia estava próxima ou não, eu só queria salvar a minha flor. A minha linda Flor.
Corri para todos os lados tentando pegá-la. Mas só quando pulei em direção à ela em um gesto de sacrifício, foi quando consegui pegá-la! E naquela hora não existia mais barulho algum. Vento nenhum. Vida alguma. Uma vasta escuridão ficou em minha volta, e a única coisa que meus olhos viam, eram minhas mãos segurando a pequena Flor. Mas quando abri os olhos senti tudo que eu não queria sentir. Deveria continuar com os olhos fechados, a obscuridade havia me confortado.
Vi o vento se aproximando cada vez mais. Fiquei ali. Deitado. Servindo de escudo para a minha Flor. Olhei para o lado sorrindo, mas logo parei, pois meu relaxamento era tão intenso, que não conseguia ao menos abrir os olhos. Senti a feroz ventania investir contra meu corpo. E a enterrando-me, sendo cúmplice do veto infernal. Simplesmente fechei os olhos, e um alívio profundo encarnou em meu espírito. Eu estava livre.
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Mas aí fui atingido por um choque no cérebro. Um pensamento veio como um raio: “Como eu vim parar nesse deserto? Não posso morrer agora. Eu não quero. Eu não... Preciso.”

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